quarta-feira, 27 de dezembro de 2017


com novos olhos mirei ao céu escuro e apagado
em busca da lua sob o sangue de nossa sombra,
onde as nuvens não possam cobrir a visão,
aguardando em silêncio o anúncio de um novo advento
clamando pelo despertar de uma flor, brotada nas cinzas
de restos em uma fresta qualquer nesta faminta terra, em que nela eu possa ver o meu reflexo

talvez no final valha a pena
cada madrugada em claro amaldiçoando as paredes,
talvez não seja o que busquei,
mas encontrar algo ainda é melhor que morrer de mãos vazias.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Retorno


com o cálice de vitórias completamente vazio
preencho-o com as amargas frustrações do passado e dou ao demiurgo como oferenda
"imploro que aceite este sacrifício de meu coração negro, pois aos anjos peço um novo"
e livre, com um novo âmago brindo o velho Eu, o mais velho Eu, o inquebrável de antes,
antes de ser partido em mil pedaços soprados para todos os lados.
já não sou mais as sobras, nem sombra, tampouco completo,
mas me tornei imagem e semelhança do que buscava ser
assim agradeço aos deuses pela sua obra, agora completa, esperando o sopro dos anjos ao som das mil trombetas a declarar o meu retorno

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Metade


E ao horizonte eu gritei por anjos que pudessem me dar as mãos, e cochichar em meus ouvidos, guiando o coração ao que está no futuro, do outro lado da estrada que eu preciso cruzar, para encontrar... para encontrar o que ficou de lado,
no passado desenterrar ainda que a metade de cada glória esquecida, e ofuscar a escuridão

e brilhar como um quasar gravitando o desconhecido, observando estrelas mortas, trazendo vida às projeções e profecias que me levam para encontrar... para encontrar à metade o que jamais se perdeu,
à metade o que ainda está preso em mim,
à metade reconstruir do que sobrou

reviver, incorporar à alma
reviver, renascer
ofuscar a escuridão
reconstruir
e voltar..

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

No final da linha...


me encontrei cruzando a estrada,
procurando sinais, e as velhas placas
apontando para Lugar Nenhum,
Nenhum Lugar é onde é meu lar
onde me enganei frente ao espelho
a minha alma já está cansada,
e os cacos no chão machucam meus joelhos
à cumprir promessas para todos os demiurgos
que vivem em mim implorando pelo meu sangue

e não sobrou mais nada que eu reconheça
dos velhos tempos em que eu pensava estar
certo de tudo, errado em nada, agraciado em viver...

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Sombras e luz


Um poeta, palhaço, coveiro
não sabe o que quer,
não lembra o que passou,
aprisionado em seu quarto,
vendo sombras tal como em uma velha alegoria
tenta rabiscar no chão, concebendo formas ao que interpreta
no que enxerga nas quatro paredes mofadas,
machucando suas mãos, pensando em desistir,
com medo de se afogar em seu próprio sangue
ele pensa em se libertar das correntes, para caminhar,
tropeçar e cair
de sua janela...

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Horizonte de Eventos


eu olho para trás e eu enxergo tantos rastros,
são velhas imagens, todas presas para sempre,
trancadas em um horizonte de eventos
que eu tento alcançar,
mas me afasto a cada passo
que eu dou olhando para baixo,
olhando para baixo só vejo a coleção de medos
a me fazer tremer as pernas
e eu sei que voltar ao passado é impossível,
mas eu ainda posso encontrar novos horizontes
tão familiares, no final desta corda em que caminho
como o palhaço faz em circo

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Supernova


e no dia em que eu sumir,
é porque parti pra longe,
pra onde as estrelas espalham suas sementes
universo afora

e se eu os atingi
é porque cruzei a linha,
demarcações de onde não podia ultrapassar,
alcancei o irreversível

me desculpo então
pelo que implodirá,
e explodirá em mil verdades
deixadas para trás,
largadas nas memórias, à força,
entalhadas em dor e agonia
eternas, ou até o fim
nas luzes que ainda vão demorar se apagar

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Reconstrução & Colapso


sob as ruínas de uma grande fortaleza
jaz um espírito cansado, quase em inanição
almejando erguer com os blocos rachados
uma nova torre, semelhante ao ego que havia antes,
necessidades de estar acima e ter uma visão,
parecendo grande, e vendo de longe o que é perigo
como algo inferior

se sempre soube que era essa a resposta,
então por que hesitei 4 anos?
se há vontade, onde estão as forças pra mover os blocos?

o medo das feridas em mãos inchadas,
sem faixas não ter como esconder as marcas,
o temor da estrutura colapsar
revelando vigas tortas sob fundações ocas,
e no subsolo um labirinto sem minotauro, onde eu não sou Teseu

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Alvorecer


Tantos dias acordando,
tantos sonhos, pesadelos
onde eu vejo
o fim de todo desejo,
o fim dos meus tempos
em esboços sendo apagados
junto com as dores, e os tormentos
por borrachas, me perguntando se é mesmo o fim,
se há mesmo um fim
ou se é apenas tinta branca cobrindo todos os rabiscos
dando espaço para novos traços, para o colorido, ou
novas danações a serem escritas ou desenhadas em
novos riscos ou traços em um meio-álbum, meio-livro,
onde as histórias de terror não parecem acabar,
e o personagem principal só quer acordar

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

0615


e eu sei que eu fui tão tolo em acreditar
que abraços não viriam com punhais
a serem fincados em minhas costas,
e todo sangue que ainda escorre
canta as dores das mágoas que jamais serão esquecidas...
"são só feridas inflamadas, dores que logo passam" - minto ao espelho esboçando um sorriso, tentando enganar o reflexo do outro lado,
mas são asas serradas, partes que não crescem mais,
de mais um suicídio em que a alma insiste em não partir...

não há nada aqui...

Verão 17/18


e o coveiro expandiu o que sobrou, 
dando novas impressões de estar completo, 
mas completo em que?
em vazio, mas de vazio nada é,
nunca esteve preenchido

então o que sobrou, 
senão retalhos de uma concha desguarnecida?
o exterior é o que sobrou, 
e quem partiu já estava adormecido, 
um Morto-vivo em estado vegetativo, 
incapaz de acordar

então que venha a chuva, 
que sopre o vento e faça-se arruinar
em tempestade
todas essas cascas imundas 
de quem já perdeu ulcerado em rancor

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Enterro


eu matei com minhas próprias mãos
aquele que restou
quando não havia nada mais ali,
nada mais a perder
enterrei os seus sonhos
cravando em seu peito,
o fio de um ódio incessante,
transcendente,

selo com as lágrimas todas as derrotas

faça-se o fim

terça-feira, 25 de abril de 2017

Mais um tropeço, língua afiada


eu disse que "nunca mais"
agora eu pago a língua,
com a cabeça entre as mãos
a vergonha me impede de me olhar
no espelho

eu sei que eu errei
eu sei que vou errar
o erro vivo,
ambulante
que nunca se apaga
sou eu

eu sei que pisei
onde não deveria pisar
abismos tão profundos
ingremes
quedas lentas,
quando vai acabar?

quarta-feira, 1 de março de 2017

27122014


não me levo tão a sério
quando digo que não sei
o que me afeta, o que destrói,
o que me alegra, e o que córroi
a minha falta de anseios a longo prazo

sim, eu sei todas as respostas,
enquanto finjo não questionar
o medo de ter medo,
por medo de ter que sentir
tudo novamente

e naquela noite
em que voltei chorando
sozinho para casa,
vozes me diziam que
eu deveria morrer...

cada lágrima que escorreu não tem nenhum valor

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Tempestade



Rever velhas lembranças, reviver ultrapassadas mágoas... 
sempre termina em desgraça, e desejos de vingança, 
contra o próprio corpo
em que permiti que toda a enxurrada de lâminas afiadas de medo
e mentiras pingassem,
tudo por querer desafiar 
o que pensava ser apenas sopro, 
mas era tempestade...

sábado, 14 de janeiro de 2017

Os devaneios de um coveiro


Francamente...
tudo ainda dói, o sono até me domina, mas as dores não deixam as luzes apagarem, nesta mente as vozes ainda cantam hinos sem sentido, e tudo o que mais quero é cuspir, ofender, cortar este corpo que já não reconheço mais há um bom tempo.
Boas notícias, esperanças vázias, nem o prestígio apagado confortam ou calam as vontades que nunca cessam
É óbvio que no espetáculo impessoal eu não quero caminhar pra trás, mas não, eu não vou dar um passo sequer para à frente, nem tentar voar
olho para o chão, e penso se mãos fracas ainda podem cavar covas nesta terra pobre pra enterrar os tufos de cabelo que arranco todas as noites tentando acreditar que é só mais uma noite, me questionando se vou mesmo acordar
Os devaneios de um coveiro...

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