sexta-feira, 27 de junho de 2025

Fim de Outono



o fim de mais um Outono chegou,
um Outono em que imaginava não estar mais aqui,
mas cá estou,
zonzo, sem forças,
sabendo que não vale mais a pena continuar.
mais uma estação em que os dias correram,
e eu não vi escorrer a areia da ampulheta.
hoje, sonho em chorar,
chorar como chorei nos dias em que não havia ninguém,
nem nada além de pungente desespero.
mais uma vez, posso dizer:
continuo aqui a arder.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Perto



finjo não lembrar de muito,
de tudo aquilo que excruciantemente esmaga o peito,
pois não foram poucas as vezes em que me senti injustiçado.
de fato, no fundo eu lembro de cada dor forçada em meu ser,
e mesmo tentando esconder do âmago,
confronto-as em uma luta de inalcançável vitória...
é tanta dor que meus horizontes não enxergo mais,
e o torpor diz que o zelo não importa tanto assim.

a cada passo,    
cada vez mais próximo,
a cada dia,
uma memória castiga feito lâmina.

no fundo, não faz o menor sentido esperar, nem me ancorar neste mar de detestáveis miragens.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Asco



este mundo me enoja,
pois nele os monstros prevalecem.
a sede por sangue já virou rotina,
e o ódio burro guia os corações desalmados.
nem mesmo os pobres animais escapam,
nem mesmo aqueles que nos acompanham,
não compreendo por que fazem do mundo assim.
já não me sinto em casa,
e não quero mais sofrer por existir,
ou por ver tamanha crueldade normalizada.
será que sou criança,
ou apenas um adulto cedo pela própria inocência imatura?

me deixe partir.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Maio



o espinhoso caminho para a recuperação me faz pensar se vale mesmo a pena,
afinal, continuarei a ser eu, o mesmo eu,
repetindo ciclicamente as mesmas falhas,
cedendo aos mesmos impulsos,
tentando sempre justificar crassos erros,
fingindo que na verdade nunca busquei qualquer acerto.

no fim das contas eu só queria poder ver teus ternos olhos, brilhantes,
e te dar um último abraço,
mas não sei se terei a chance.

domingo, 20 de abril de 2025

(Des)temor


 
nestes últimos quatro meses, eu até senti esperança algumas vezes.
mas, cada vez que a sentia,
não demorava muito até que ela se desmanchasse completamente diante dos meus olhos.
então, eu abandono a esperança.
eu não preciso de esperança.
quem precisa de esperança?
no fundo, 
eu queria poder sentir esperança genuína.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Ampulheta



me pego almejando que este seja meu último outono,
pois muito falhei ao tentar buscar novas rotas e pelo escuro me guiar,
mas terminei me perdendo ainda mais.

a sua falta me faz temer a sua demora,
e eu temo não aguentar estar aqui pra poder te ver bem
e te dizer que sinto muito por não conseguir te acompanhar.

eu ainda estou aqui, 
dói esperar,
mas vou tentar.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Eu preciso desabafar.



Eu mantenho este blog desde os meus 18 anos de idade, e aqui sempre vomitei, em versos livres, os meus mais profundos e obscuros sentimentos. Como podemos ver, faz muito tempo que minha mente é perturbada. No dia 11 deste mês, amanhã, completo 33 anos, e como nunca sabemos o dia de amanhã, sinto que preciso desabafar — desta vez, por meio de um texto.

Eu estou um completo caco, sabe? Ao longo de todo esse tempo, não foram poucas as vezes em que cheguei ao limite — e sempre voltei dele —, tendo passado por diversos altos e baixos, tendo visto o abismo como enxergo a ponta do meu nariz por entre os olhos. Desde 2023, minha saúde mental vem piorando gradualmente, de pouquinho em pouquinho, com um rápido declínio a partir de outubro de 2024. Eu também não me ajudei, mantendo comportamentos erráticos, impulsivos, obsessivos e autodestrutivos. Minha cabeça está tão fora do lugar que eu acredito — estou convicto — de que é impossível me recuperar, pois já cruzei praticamente todas as linhas vermelhas do que é aceitável para continuar lutando.

Crises intensas de borderline, crises de hipomania e depressão da bipolaridade, a falta de perspectiva e a incapacidade de ter objetivos ou sonhos têm me machucado bastante — estou estraçalhado, no chão, e meus demônios interiores continuam a me torturar.
Neste declínio, percebo que estou me tornando uma pessoa cada vez menos capaz de viver em sociedade, pois já não suporto mais minhas emoções, já falho em lidar com as coisas da vida de forma saudável.
Acordo me perguntando o porquê de ainda estar aqui, e ao longo do dia vivo me repetindo: "Eu não vou conseguir..." Tento me apegar às coisas de que gosto, mas elas já não são mais suficientes. Ao longo do dia, minha mente simplesmente desliga, porque eu não quero ter que lidar com toda essa dor.
Sinto-me como um trem em alta velocidade, prestes a colidir com uma parede e descarrilar.

Tenho vivido um intenso desespero, do qual não consigo alívio. O desespero tem sido tão grande que, em certos momentos, implorei por um milagre, por compaixão de alguma divindade ou força que venha a existir — que creio não existir —, mas que gostaria que existisse. O mundo é um lugar injusto demais, e dói demais pensar que tudo isso é apenas isso: tudo em vão.

Estou a um inverno de finalmente desistir, caso as coisas dentro da minha cabeça não se acalmem. E se eu desistir, não foi por culpa de ninguém. No fim das contas, somos todos frutos das circunstâncias e de fatores que não temos qualquer controle, onde, no máximo, temos a ilusão de que há alguma liberdade de ação — quando, na verdade, não há.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Abril

 


abril chegou, e com ele tanta dor,
tantas lembranças de quando sentia paixão em ser,
amor em ver e ouvir o som dos pássaros, 
ou mesmo das buzinas ao longe em meio a vozes inaudíveis.
hoje dissocio,
pra não ter que lidar,
por não poder suportar,
pois cada uma dessas lembranças é como lâmina em gume vivo
inevitavelmente talhando sob um coração já devastado.

sobreviver ao mês de abril sempre foi difícil, 
e diante do pior desde 2010,
queira Eu que este seja o último,
pois cada suspiro é carregado de pesadas bagagens
daquelas que não quero mais carregar.

terça-feira, 1 de abril de 2025

batalha perdida



pesado como nunca,
nada mais é suficiente pra fazer distrair.
nada acontece, o tempo se esgota,
e mais uma vez...
nada acontece.
tudo que esperei não era nada menos que um "milagre",
mas milagres são doces ilusões que nunca acontecem.
essa dor não vai passar, e definitivamente esta é uma batalha perdida,
ou vai que algum milagre aconteça antes do tempo esgotar, né?
asco.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Àquele Lugar



não sei por que me enganei
me dizendo que um dia iria passar
toda a dor que cultivei por nunca esquecer, 
e pensar que não merecia mais.
sem honra, de cabeça baixa, 
com medo, de pernas fracas,
ainda estou sob o infernal horizonte,
mas perto de alcançar "Àquele Lugar",
onde tanto almejei, 
pra poder enfim chorar, 
sangrar, deixar morrer. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Sem Fôlego



você já acordou com a sensação de estar com o fôlego nas últimas? 
é assim que tenho acordado. 
fato é que estou cansado há tantos anos, 
mas hoje eu estou cansado de estar cansado. 
não sei se há forças sequer para me manter cansado de estar cansado. 
eu queria salvação, mas não há salvação.
eu queria estar bem. 
eu não estou bem.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

O Início da Última Temporada



fisicamente fraco, mentalmente fragilizado.
em completa desesperança me encontro.
sinto como se estivesse no início da última e trágica temporada de uma ficção barata.
o drama, sempre exagerado, já transborda.
o medo, tento ignorar, finjo não existir.
me divirto, faço tudo o que eu quero, e como quero,
não me envergonho de meu hedonismo irresponsável, 
pois, ao escolher meu último dia, quero olhar para trás,
e romantizar tudo que vivi: todos os prazeres e gargalhadas, 
todas as desgraças e derrotas,
cada lágrima derramada,
e concluir, então,
que se tudo foi em vão,
ao menos tive uma grande história,
daquelas que ninguém vai contar.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Recipiente Vazio




sou um recipiente vazio,
e por ser vazio, a amargura sempre se aproveita,
trazendo com ela a ira, e a autodestruição, 
a me preencher.
novamente sigo em alta velocidade,
hoje eu já enxergo o intransponível em meu caminho,
sem saber se tento frear, ou se acelero, sofro em silêncio.
se tanto inspiro e expiro tormento, 
e não sonho mais com a luz ao fim do túnel,
é porque sei que quanto mais eu desejar e sonhar,
maior será a dor da colisão.

sigo aqui, mesmo exausto, pois temo que meu sangue respingue em dor, ruína e mais languidez a quem tanto amei. Se algum dia eu desistir, saiba que lutei até o fim.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Adicto em Declínio



aflito, de alma estafada,
o véu que separa o coração da razão 
não me permite enxergar qualquer valor
ao olhar através do espelho da alma.
os pesadelos ainda vivem e consomem até a sombra,
e não há mais forças para lutar,
pois por tanto tentei, 
acreditando ter dado meu melhor,
portanto falhei 
ao tentar ficar de pé.
tal como uma cobra, hoje rastejo, mas menos que ela que sou,
pois ela ainda tem algum valor que um adicto em declínio.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Documentando #1: microdosagem de cogumelos mágicos



Depois de 15 anos entre idas e vindas em tratamentos para borderline e bipolaridade, com terapias e diversas medicações sem sucesso, hoje decidi, por iniciativa própria, iniciar um tratamento com microdosagem de cogumelos mágicos (Psilocybe cubensis).

Faz anos que acompanho pesquisas sobre essa alternativa, que tem se mostrado promissora (ao ponto de ter sido recentemente legalizada para uso medicinal na Austrália). Como tenho vasta experiência com o fungo, por que não usá-lo de maneira medicinal?

Estou utilizando um comprimido por dia, contendo 100 miligramas de cogumelos triturados. Neste blog, farei um breve relatório diário. Após 30 dias, analisarei os aspectos positivos e negativos e decidirei se continuarei ou não com o tratamento.

domingo, 5 de janeiro de 2025

(Deso)lamento


já não posso voltar atrás, consertar os desacertos
e desfazer tudo aquilo que me fez quebrar em pedaços tão pequenos,
me restando somente o futuro ora premeditado.
eu tento, tento remar com as mãos,
mesmo em frente à invencível tormenta,
mas, sabe, ainda estou aqui,
sofrendo, chorando e rindo de tudo e de mim mesmo,
ainda estou vivo, mesmo sabendo que o fim me espera.
então me debato,
choro e rio,
também me desespero,
choro e rio,
enquanto o doce abraço espero

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Resignação



meu mundo está desmoronando,
e eu tento remendar os destroços, mas não consigo ir além.
minhas mãos já não são suficientes para construir estradas que vão me levar a algum lugar, 
pois aqui as paixões morreram com as vontades, e só me resta forçar ficar à vontade e aceitar.
dói demais quando o que é, é o quê e como deve ser, 
então enfrento, mesmo sabendo, afinal, é o que tanto espero,
o descanso de todas as dores que não param de arder, de tudo aquilo que nunca irá cicatrizar.

Endereço mudou para recipientevazio.wordpress.com

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