sexta-feira, 27 de junho de 2025

Fim de Outono



o fim de mais um Outono chegou,
um Outono em que imaginava não estar mais aqui,
mas cá estou,
zonzo, sem forças,
sabendo que não vale mais a pena continuar.
mais uma estação em que os dias correram,
e eu não vi escorrer a areia da ampulheta.
hoje, sonho em chorar,
chorar como chorei nos dias em que não havia ninguém,
nem nada além de pungente desespero.
mais uma vez, posso dizer:
continuo aqui a arder.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Perto



finjo não lembrar de muito,
de tudo aquilo que excruciantemente esmaga o peito,
pois não foram poucas as vezes em que me senti injustiçado.
de fato, no fundo eu lembro de cada dor forçada em meu ser,
e mesmo tentando esconder do âmago,
confronto-as em uma luta de inalcançável vitória...
é tanta dor que meus horizontes não enxergo mais,
e o torpor diz que o zelo não importa tanto assim.

a cada passo,    
cada vez mais próximo,
a cada dia,
uma memória castiga feito lâmina.

no fundo, não faz o menor sentido esperar, nem me ancorar neste mar de detestáveis miragens.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Asco



este mundo me enoja,
pois nele os monstros prevalecem.
a sede por sangue já virou rotina,
e o ódio burro guia os corações desalmados.
nem mesmo os pobres animais escapam,
nem mesmo aqueles que nos acompanham,
não compreendo por que fazem do mundo assim.
já não me sinto em casa,
e não quero mais sofrer por existir,
ou por ver tamanha crueldade normalizada.
será que sou criança,
ou apenas um adulto cedo pela própria inocência imatura?

me deixe partir.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Maio



o espinhoso caminho para a recuperação me faz pensar se vale mesmo a pena,
afinal, continuarei a ser eu, o mesmo eu,
repetindo ciclicamente as mesmas falhas,
cedendo aos mesmos impulsos,
tentando sempre justificar crassos erros,
fingindo que na verdade nunca busquei qualquer acerto.

no fim das contas eu só queria poder ver teus ternos olhos, brilhantes,
e te dar um último abraço,
mas não sei se terei a chance.

domingo, 20 de abril de 2025

(Des)temor


 
nestes últimos quatro meses, eu até senti esperança algumas vezes.
mas, cada vez que a sentia,
não demorava muito até que ela se desmanchasse completamente diante dos meus olhos.
então, eu abandono a esperança.
eu não preciso de esperança.
quem precisa de esperança?
no fundo, 
eu queria poder sentir esperança genuína.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Ampulheta



me pego almejando que este seja meu último outono,
pois muito falhei ao tentar buscar novas rotas e pelo escuro me guiar,
mas terminei me perdendo ainda mais.

a sua falta me faz temer a sua demora,
e eu temo não aguentar estar aqui pra poder te ver bem
e te dizer que sinto muito por não conseguir te acompanhar.

eu ainda estou aqui, 
dói esperar,
mas vou tentar.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Eu preciso desabafar.



Eu mantenho este blog desde os meus 18 anos de idade, e aqui sempre vomitei, em versos livres, os meus mais profundos e obscuros sentimentos. Como podemos ver, faz muito tempo que minha mente é perturbada. No dia 11 deste mês, amanhã, completo 33 anos, e como nunca sabemos o dia de amanhã, sinto que preciso desabafar — desta vez, por meio de um texto.

Eu estou um completo caco, sabe? Ao longo de todo esse tempo, não foram poucas as vezes em que cheguei ao limite — e sempre voltei dele —, tendo passado por diversos altos e baixos, tendo visto o abismo como enxergo a ponta do meu nariz por entre os olhos. Desde 2023, minha saúde mental vem piorando gradualmente, de pouquinho em pouquinho, com um rápido declínio a partir de outubro de 2024. Eu também não me ajudei, mantendo comportamentos erráticos, impulsivos, obsessivos e autodestrutivos. Minha cabeça está tão fora do lugar que eu acredito — estou convicto — de que é impossível me recuperar, pois já cruzei praticamente todas as linhas vermelhas do que é aceitável para continuar lutando.

Crises intensas de borderline, crises de hipomania e depressão da bipolaridade, a falta de perspectiva e a incapacidade de ter objetivos ou sonhos têm me machucado bastante — estou estraçalhado, no chão, e meus demônios interiores continuam a me torturar.
Neste declínio, percebo que estou me tornando uma pessoa cada vez menos capaz de viver em sociedade, pois já não suporto mais minhas emoções, já falho em lidar com as coisas da vida de forma saudável.
Acordo me perguntando o porquê de ainda estar aqui, e ao longo do dia vivo me repetindo: "Eu não vou conseguir..." Tento me apegar às coisas de que gosto, mas elas já não são mais suficientes. Ao longo do dia, minha mente simplesmente desliga, porque eu não quero ter que lidar com toda essa dor.
Sinto-me como um trem em alta velocidade, prestes a colidir com uma parede e descarrilar.

Tenho vivido um intenso desespero, do qual não consigo alívio. O desespero tem sido tão grande que, em certos momentos, implorei por um milagre, por compaixão de alguma divindade ou força que venha a existir — que creio não existir —, mas que gostaria que existisse. O mundo é um lugar injusto demais, e dói demais pensar que tudo isso é apenas isso: tudo em vão.

Estou a um inverno de finalmente desistir, caso as coisas dentro da minha cabeça não se acalmem. E se eu desistir, não foi por culpa de ninguém. No fim das contas, somos todos frutos das circunstâncias e de fatores que não temos qualquer controle, onde, no máximo, temos a ilusão de que há alguma liberdade de ação — quando, na verdade, não há.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Abril

 


abril chegou, e com ele tanta dor,
tantas lembranças de quando sentia paixão em ser,
amor em ver e ouvir o som dos pássaros, 
ou mesmo das buzinas ao longe em meio a vozes inaudíveis.
hoje dissocio,
pra não ter que lidar,
por não poder suportar,
pois cada uma dessas lembranças é como lâmina em gume vivo
inevitavelmente talhando sob um coração já devastado.

sobreviver ao mês de abril sempre foi difícil, 
e diante do pior desde 2010,
queira Eu que este seja o último,
pois cada suspiro é carregado de pesadas bagagens
daquelas que não quero mais carregar.

terça-feira, 1 de abril de 2025

batalha perdida



pesado como nunca,
nada mais é suficiente pra fazer distrair.
nada acontece, o tempo se esgota,
e mais uma vez...
nada acontece.
tudo que esperei não era nada menos que um "milagre",
mas milagres são doces ilusões que nunca acontecem.
essa dor não vai passar, e definitivamente esta é uma batalha perdida,
ou vai que algum milagre aconteça antes do tempo esgotar, né?
asco.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Àquele Lugar



não sei por que me enganei
me dizendo que um dia iria passar
toda a dor que cultivei por nunca esquecer, 
e pensar que não merecia mais.
sem honra, de cabeça baixa, 
com medo, de pernas fracas,
ainda estou sob o infernal horizonte,
mas perto de alcançar "Àquele Lugar",
onde tanto almejei, 
pra poder enfim chorar, 
sangrar, deixar morrer. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Sem Fôlego



você já acordou com a sensação de estar com o fôlego nas últimas? 
é assim que tenho acordado. 
fato é que estou cansado há tantos anos, 
mas hoje eu estou cansado de estar cansado. 
não sei se há forças sequer para me manter cansado de estar cansado. 
eu queria salvação, mas não há salvação.
eu queria estar bem. 
eu não estou bem.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

O Início da Última Temporada



fisicamente fraco, mentalmente fragilizado.
em completa desesperança me encontro.
sinto como se estivesse no início da última e trágica temporada de uma ficção barata.
o drama, sempre exagerado, já transborda.
o medo, tento ignorar, finjo não existir.
me divirto, faço tudo o que eu quero, e como quero,
não me envergonho de meu hedonismo irresponsável, 
pois, ao escolher meu último dia, quero olhar para trás,
e romantizar tudo que vivi: todos os prazeres e gargalhadas, 
todas as desgraças e derrotas,
cada lágrima derramada,
e concluir, então,
que se tudo foi em vão,
ao menos tive uma grande história,
daquelas que ninguém vai contar.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Recipiente Vazio




sou um recipiente vazio,
e por ser vazio, a amargura sempre se aproveita,
trazendo com ela a ira, e a autodestruição, 
a me preencher.
novamente sigo em alta velocidade,
hoje eu já enxergo o intransponível em meu caminho,
sem saber se tento frear, ou se acelero, sofro em silêncio.
se tanto inspiro e expiro tormento, 
e não sonho mais com a luz ao fim do túnel,
é porque sei que quanto mais eu desejar e sonhar,
maior será a dor da colisão.

sigo aqui, mesmo exausto, pois temo que meu sangue respingue em dor, ruína e mais languidez a quem tanto amei. Se algum dia eu desistir, saiba que lutei até o fim.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Adicto em Declínio



aflito, de alma estafada,
o véu que separa o coração da razão 
não me permite enxergar qualquer valor
ao olhar através do espelho da alma.
os pesadelos ainda vivem e consomem até a sombra,
e não há mais forças para lutar,
pois por tanto tentei, 
acreditando ter dado meu melhor,
portanto falhei 
ao tentar ficar de pé.
tal como uma cobra, hoje rastejo, mas menos que ela que sou,
pois ela ainda tem algum valor que um adicto em declínio.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Documentando #1: microdosagem de cogumelos mágicos



Depois de 15 anos entre idas e vindas em tratamentos para borderline e bipolaridade, com terapias e diversas medicações sem sucesso, hoje decidi, por iniciativa própria, iniciar um tratamento com microdosagem de cogumelos mágicos (Psilocybe cubensis).

Faz anos que acompanho pesquisas sobre essa alternativa, que tem se mostrado promissora (ao ponto de ter sido recentemente legalizada para uso medicinal na Austrália). Como tenho vasta experiência com o fungo, por que não usá-lo de maneira medicinal?

Estou utilizando um comprimido por dia, contendo 100 miligramas de cogumelos triturados. Neste blog, farei um breve relatório diário. Após 30 dias, analisarei os aspectos positivos e negativos e decidirei se continuarei ou não com o tratamento.

domingo, 5 de janeiro de 2025

(Deso)lamento


já não posso voltar atrás, consertar os desacertos
e desfazer tudo aquilo que me fez quebrar em pedaços tão pequenos,
me restando somente o futuro ora premeditado.
eu tento, tento remar com as mãos,
mesmo em frente à invencível tormenta,
mas, sabe, ainda estou aqui,
sofrendo, chorando e rindo de tudo e de mim mesmo,
ainda estou vivo, mesmo sabendo que o fim me espera.
então me debato,
choro e rio,
também me desespero,
choro e rio,
enquanto o doce abraço espero

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Resignação



meu mundo está desmoronando,
e eu tento remendar os destroços, mas não consigo ir além.
minhas mãos já não são suficientes para construir estradas que vão me levar a algum lugar, 
pois aqui as paixões morreram com as vontades, e só me resta forçar ficar à vontade e aceitar.
dói demais quando o que é, é o quê e como deve ser, 
então enfrento, mesmo sabendo, afinal, é o que tanto espero,
o descanso de todas as dores que não param de arder, de tudo aquilo que nunca irá cicatrizar.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Desventura



O tempo que eu passei pensando sobre procurar um caminho,
apenas pensei, e nada fiz, continuei a arder em fogo andando em brasa,
e eu não sei como vou continuar, 
pois nunca houve um plano B, algo a se fazer,
pois nunca pensei que ia querer ficar,
no fundo eu tenho medo, mas já é tarde demais para lutar,
as vozes não me deixam descansar.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Perdição



Engolido por frustração e medo, a energia negativa transborda, e
quanto mais penso sobre o mundo, aumenta exponencialmente a minha vontade de desistir.
As coisas dentro da minha cabeça não têm sido fáceis; já não suporto este peso que há tanto carrego, 
e, fora da minha cabeça, a vida também não tem sido complacente.
Estou cada vez mais exausto e sem um pingo de esperança,
alcançando limites antes definidos como minhas derradeiras linhas vermelhas.
Está tudo tão diferente,
não me reconheço mais, não reconheço o que me cerca,

e não sei mais se é possível voltar a ser como era antes.
Não sei mais o que fazer, nem o que esperar, ou por que esperar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Círculos



tudo está perdido,
tão perdido,
e eu finjo não ver todos os espinhos no caminho,
ignoro as feridas não cicatrizadas acumuladas.
segui caminhando, tão ferido, até chegar aqui.

mas hoje tudo me leva a crer que, se nada vai mudar,
por que não devo, então, me entregar?

tão perdido, continuo caminhando
até o incerto futuro que nem sei se existe mais.
tão perdido, eu não saio do lugar,
tão perdido, em círculos a vagar.

Da aceitação do futuro



esperando a vida me varrer,
e me jogar em qualquer lugar,
eu já não ligo mais se vou continuar tentando,
ou se vou desmanchar em consequências,
pois o tormento que há dentro da mente é bem mais forte,
e confortável é o abraço que o abismo oferece, 
mas o espaço que há entre o ser e o agir nunca será apagado da história.
e as dores persistirão na chuva,
derrubando as folhas secas,
deslizando a terra exausta.
o reflexo em branco é o futuro que me espera.

sábado, 30 de novembro de 2024

Teto



cruzei todas as linhas vermelhas,
não há mais como voltar atrás,
todos os planos foram exaustos,
toda a esperança,
que esperança?
apenas ilusão.
e me restou dizer que já basta,
dizer não ao sofrimento,
do meu jeito,
o único jeito,
e nos lembrar que em Lugar Nenhum há algum lar para descansar,
sem doer.

domingo, 24 de novembro de 2024

Real



sempre tão distante, 
me empenhando em permanecer
no controle,
pois aqui dentro tudo pesa,
e o ar sempre sufoca,
o peito dói e a garganta machuca
toda vez que lembro não querer mais lembrar.
todo dia, um novo dia,
fantasiando o que poderia ser 
tão real, ser real.
será que sou real? 
eu nunca me senti real.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Chamas



o solitário tripulante de uma embarcação em chamas no oceano tempestuoso já não sabe mais o que fazer,
como conter as chamas, ou consertar as fraturas expostas no casco.
aos poucos, a água inunda e já alcança a altura do peito,
os alimentos estragam, e a fome não saciada me faz mastigar pele e carne de meu próprio corpo.
os gritos de socorro são abafados pelo som da tempestade; cansam a garganta que asfixia com a fumaça, e a fraqueza consome o corpo já exausto.
entre o mar e as chamas, permita-me queimar,
permita-me arder, sofrer,
dissipa-me,
extingua o sofrimento.




sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Olvido



Dentro de meu peito o vazio toma conta do que faz arder,
nos meus ouvidos domina o silêncio de um quarto escuro 
onde eu me cubro em lágrimas, 
onde os horizontes são de concreto.
me faz lembrar que estou mais distante de um dia que já foi normal,
me faz pensar que todas as esperanças já se tornaram cinzas.
Sem razão e imerso em hedonismo autoflagelante,
como um rio desaguando no mar, e o mar no oceano,
sigo meu caminho rumo ao olvido. 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Murmúrios solitários de um marinheiro perdido em alto mar



e como eu me sinto quando chorar se torna tempo de qualidade comigo mesmo?
tão dissociado, tão distante,
afastado de mim mesmo, nem eu sei como responder.
suas perguntas não me fazem encontrar respostas ou soluções, 
me tornei incapaz de quaisquer decisões, e imprevistos que me façam mover
um palmo para fora de minha bolha,.
tão confortável, 
onde tudo sei, 
onde tudo tenho, 
onde nada temo,
onde tudo que eu tenho é saber que eu já perdi tudo,
e que se não há nada a se fazer, então por que sofrer?

sei que o amanhã ainda está à espreita,
mas já estou pronto para atracar minha embarcação no meio do escuro e impaciente oceano,
e me afogar no eterno desconhecimento de tudo que um dia fui ou poderia me tornar.

sábado, 6 de abril de 2024

Saudades de mim, esperança.



então eu tento, mais uma vez,
seguir em frente,
de cabeça erguida,
sem desviar os olhos.
ao céu limpo admirar o azul,
e o branco das nuvens,
e no canto dos pássaros
imaginar as histórias de como aprenderam a voar,
e nelas tomar alguma inspiração.
olhando para dentro,
ouvindo meus próprios conselhos,
tento então seguir sem me odiar.
olhando para dentro,
mergulhando rumo aonde me perdi,
tento mais uma vez me reencontrar.

domingo, 10 de março de 2024

Relógio



tanto tempo que eu tento escrever
tudo que eu sinto aqui dentro pra você,
mas o nada e o vazio sempre estão aqui
tomando todo o tempo, e o meu viver,
o meu precioso viver, e tão curto o tempo

eu não sei o que fazer,
eu já não sei aonde caminhar,
se meu olhar já não brilha mais,
então por que continuar?

em busca de uma resposta,
por ter tanto medo do inconcebível,
inimaginável, singular,
o eterno fim que nos aguarda

se vago pela estrada suja e sem asfalto,
é porque nela nasci, dela não consegui fugir,
sabendo que também nela será o meu fim.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Contagem regressiva

O barco está afundando, 
e não existe mais no que se ancorar. 
Aquilo que se espera há tanto, tanto tempo... 
se tornou mera questão de tempo. 

Então o que restou, 
senão incendiar tudo 
antes de inevitavelmente se afogar 
no infindável mar?

Os cacos que cortam as minhas mãos um dia foram belos mosaicos,,
e na aterrorizante escuridão que há aqui dentro
já houve cores, luz e esperança 

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Reconhecimento



eu não consigo aceitar a verdade,
não consigo enfrentar meus medos,
nado entre as memorias de dias em que as dores foram as maiores,
me afogando em busca de novas rotinas, novos sabores

é terrível carregar traumas e cicatrizes para o futuro, mas não ser possível sussurrar os caminhos certos para o meu eu do passado.
se pudesse eu diria onde na ponte o vento faz balançar,
e todas as vitórias que não existem do outro lado,
que não será possível voltar, pois seguir em frente é abandonar

domingo, 16 de julho de 2023

Aurora



Eu até que tentei,
apegado na esperança de retomar,
fazer tudo ser como era antes,
mas eu sabia que iria falhar, mas mesmo assim tentei,
disse tudo que eu sentia,
disse tudo que temia,
os pesadelos em que eu vi
tudo que iria acontecer,

o monstro debaixo da cama é tão real,
e ele me impede de gritar,
ansioso sempre pelo que está por vir,
mas o que está por vir senão viver sem você aqui?

vazio ou inundação,
estou perdido, e as estrelas não mostram direção
não há mais salvação,
me afogo no sangue dos cortes,
sem poder negar, gritar: "não!"

sábado, 15 de julho de 2023

Poslúdio



o sol vai se pôr,
e eu vou com ele.
meu corpo vai se transformar em cinzas,
e minha alma será extinguida .
não vou sentir medo,
porque sei que estou indo para Lugar Nenhum. meu lar, 
Nenhum Lugar.

sábado, 3 de junho de 2023

A medíocre história do princípio ao seu final



cimetidina, metoclopramida,
ketamina, nitrito de sódio.
em total controle do que é mais meu do que de qualquer um,
o poder de decidir partir me faz sentir alguém digno de não ser mais um incompetente. 
abraçar o oblívio, ou encontrar deus e o diabo,
já não restam opções, nem sentido em continuar.
portanto sigo em direção à luz.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Escuro



O abismo é meu único lar. É o único lugar onde me sinto verdadeiramente seguro e confortável. 
Por anos ali fiz morada, e dali olhava para fora, vislumbrando os fracos que não tinham este tipo de privilégio. 
Com o tempo voltei a ser um fraco, a sombra deu lugar a luz, e a luz me cegou e queimou. 
Hoje volto de joelhos, me entregando ao estável vazio, implorando por aceitação e certo de que ali é meu lugar, e que nunca mais devo sair de lá, pois lá nada me atinge, nada me aflige, e posso esperar o doce abraço do oblívio. 

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Em vão

 

tudo vai falhar,
tudo vai acabar,
nada valeu,
o tempo se perdeu,
o sucesso nunca foi seu destino.
tanto sangue derramado,
tantas lágrimas choradas,
tantos dias gastos em tolices,
arrependimentos não curarão a gangrena que se formou.

se âncoras com correntes quebradas de nada servem e me fariam afundar, por que mesmo assim fui tolo de atirá-las ao mar?

terça-feira, 16 de maio de 2023

Comer e dormir



comer para viver, somente pelo prazer, 
amo o que nunca me satisfaz, amo o que nunca me faz bem. 
só quero dormir, mas não posso descansar, 
a vida é um fardo, um peso a me afundar no chão. 

comer para viver, somente pelo sabor
tudo é gostoso, e me leva ao paraíso de olhos fechados. 
apenas quero morrer, mas não tenho coragem, 
a morte é um mistério, uma incerteza universal. 

comer para viver, mesmo sempre de barriga cheia. 
nada me motiva, nada me inspira, nada me sacia 
só quero sonhar, mas não posso escapar
a realidade é uma prisão, uma tortura sem fim

sábado, 13 de maio de 2023

Pequeno

 

eu não sou especial.
não sou excepcional. 
sou abaixo do padrão de bom senso e de normalidade.
medíocre, superficial, monótono e hipócrita,
vivo no limite da funcionalidade e sanidade. 
sou aquele que não honra as dignidades de papel,
aquelas que ateei fogo para me livrar do medo que nunca partiu. 
aos escombros caminho, 
pelas nuvens meus olhos seguem tentando fugir, pelos olhos sem lágrimas como rios secos,
o mais profundo abismo pode ser visto, 
e nele quero cair, desistir e nunca mais voltar. 

o que há de único em mim?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

saudade, Pepe Linarez



tão longe quanto podia enxergar,
tu foste para não mais voltar, 
no indivisível, no interno invisível,
no subconsciente adormeceu. 
de Pepe Linarez nunca mais se ouviu,
por tanto, mas em vão esperei, 
aos poucos que não lhe esqueceram, 
restaram somente lembranças com lacunas, 
memórias perdidas sem gatilhos, 
formou-se mais um abismo para quem já vive deles.

se pudesse voltar no tempo e lhe dizer que o fim seria seu destino, sei que você gargalharia. 
se pudesse te contar todas as desgraças,
que nem mesmo sua honra e dignidade sobreviveriam, 
e te mostrar que sou o reflexo nos espelhos, 
a soma de teus descuidos, produto de sua inconsistência, 
de certo te faria se salvar do futuro marasmo, 
ou quem sabe desistir de maneira digna. 

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Fracasso

 

não tenho para onde ir, 
nem a quem recorrer, 
o que já foi nunca mais será, 
e a saudade em memórias apenas irrigam excruciante dor.
sou uma falha, um fracasso,
me envergonho do que me tornei,
meus sonhos do passado eram só ilusão, 
e hoje sou forçado a aceitar ser uma existência negativa e indesejada.

honra e dignidade de papel queimam rápido, e o fogo não traz mais nenhum calor capaz de fazer sobreviver. 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Mármore



em mármore profundo o fogo arde,
superaquecendo o meu peito, onde existe o inferno.
nele meus demônios me torturam,
desmembrando e mutilando tudo que há dentro.
certo de não haver escapatória, choro em vão,
certo de não quebrar correntes, já não me movo mais.
as luzes já piscam, 
os avisos são ignorados,
e já aceito, 
não há nada de excepcional em meu ser. 

sábado, 29 de abril de 2023

Sonho distante



o senso de completude é um sonho, 
tão alto quanto as estrelas,
como elas inalcançável, 
uma mera fantasia tola.
o vazio é tão natural, 
superficial como existir, 
e já não é mais possível vencer. 

Se pudesse sangrar até inundar o quarto,
me afogaria e limparia o mundo dos meus pecados, mas sou só uma casca vazia em estado de putrefação esperando ser varrida. 


quarta-feira, 26 de abril de 2023

Decisão



Por toda a vida fui acostumado a ser suprimido pelos outros. Com o tempo tive de aprender a eu mesmo suprimir tudo que há dentro de mim. Nunca pude ficar triste, nem explodir de raiva.
Cresci, e as coisas mudaram. Mudaram para pior. Continuei e continuo acorrentado sem o direito de ser eu mesmo.
Repito que o simples fato de eu estar aqui faz da minha existência abusiva, tóxica e violenta. Não tenho direitos de questionar isso, e já está claro que existe somente uma forma de mudar. 
Se nunca pude decidir por mim, desta vez tomo a autoridade para isso, e estou completamente pronto para aliviar do mundo o fardo que é minha permanência.

Já estou decidido e nada, nem ninguém vai me parar. Já sofri o bastante e me arrependo amargamente de antes ter escolhido permanecer aqui. Confesso que sinto medo sim, e que adoraria que as coisas fossem diferentes, mas não foram, não são e nunca seriam. Eu queria muito viver e ser feliz, mas esse direito nunca me será concedido... então decidi que vou fugir dessa vida, ainda que essa seja a única vida que eu possa ter. Não queria abismar meus pais, meu irmão e meu melhor amigo, mas que escolha tenho? 

O mundo é injusto, e eu me entregarei sim à desgraça do autoextermínio. 

Nitrito de sódio



sonho em não acordar,
deixar de ser e de ver
o quanto perdi na permanência, 
desta vida todo o tempo que perdi
em tudo que eu vivi e não vivi
em vão, enfim um dia cessar.

sonho em não mais sonhar,
acordo querendo voltar a dormir. 
quanto me falta para ter coragem? 

sábado, 22 de abril de 2023

Fogo




meus demônios já me venceram,
mesmo sem enfrentar resistência
eles continuam a me torturar.
vivo me perguntando o que houve,
quais pecados eu cometi,
o que é que eu fiz?
condenado à uma pena de vida,
onde fantasio sobre outras vidas,
sobre como poderia ter sido,
e sobre como dói demais ser incapaz.

nada nunca irá mudar,
esta dor nunca cessará,
a porta está ao lado,
mas covardia ainda me impede de atravessá-la.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Sono

 

Todos os dias acordo querendo dormir mais. Só um pouco mais, e apesar de eu querer dormir para sempre, não quero dormir sem sonhar, pois temo minha própria ausência, ausência esta que acredito que existiu por bilhões de anos antes do meu nascimento e possivelmente existirá por toda eternidade após a minha morte.

Quando sonho, até que é comum ter pesadelos, mas mesmo nos piores pesadelos, me sinto mais confortável que acordado no mundo real.

Seria arrogância da minha parte pensar que este mundo não foi feito para mim, quando na verdade sou eu que não fui feito para este mundo.

Preciso mesmo ressaltar que incomoda ter nascido, e que incomoda mais ainda o fato de que não existe absolutamente nada que eu possa fazer para apagar o fato que eu vim à existência? Mesmo que eu pereça, mesmo que um dia eu seja esquecido, todo o tempo que vivi eu sofri e o tempo que sofri foi em vão.

Essa é uma impotência da qual não existe possibilidade de fuga e sou obrigado a ser engolido pelo desespero. 

domingo, 16 de abril de 2023

Imigrante ilegal



Sempre tive que me esconder, esconder quem eu sou, o que penso e o que sinto. Todas as vezes que coloquei pra fora os meus sentimentos, visões de mundo e objetivos eu fui desmerecimento e invalidado, me sentindo como se eu não fosse digno de empatia, nem tivesse valor. O mundo me diz que não posso desenvolver amor próprio, que isso não é algo que sou permitido ter. Essas coisas acontecem desde que eu nasci. 

Me pergunto se sou mesmo um ser humano, ou se sou uma sub-raça, um animal asqueroso tal como uma barata que deva ser constantemente esmagada.

Invejo as pessoas que podem falar, reclamar, julgar, explodir, ou chorar. Invejo quem pode sonhar, bem desejar, ou fantasiar. É triste saber que essas coisas estão fora do meu domínio, pois vim a um mundo onde sou mero estrangeiro. Na existência sou como um eterno imigrante ilegal.

Será que tenho ao menos o direito de desistir de mim? 


sábado, 15 de abril de 2023

Tortura em Guantánamo



Desde a adolescência, acreditava que não passaria dos 27 anos de idade, mas, poucos dias atrás, completei 31 anos — mais uma vez tomado por crises existenciais terríveis. De fato, mesmo nunca acreditando, sempre tive a ingênua esperança de que as coisas pudessem melhorar com o passar do tempo.

Com o passar do tempo, as coisas foram ficando cada vez mais assustadoras. Ainda que eu tenha me habituado ao sofrimento, dói demais parar e analisar o abismo em que me encontro. Há quem pense que eu fetichizo a tristeza e romantizo a desgraça, mas, honestamente, eu faria qualquer coisa para que as coisas fossem diferentes... Certamente, eu já fiz de tudo, sem nenhum sucesso...

Já disse dezenas de vezes: a minha simples existência é um fardo — não só para minha própria pessoa, pois sempre é cuspido em minha cara o quanto existir sendo eu, por si só, é algo extremamente tóxico, um grande erro do acaso. Sou como um vírus perigosíssimo, mesmo sem querer ser assim.

Às vezes, tenho alguns momentos de paz. Muitas vezes, neles me iludo e me afogo, esquecendo que não deveria “ser”, que não deveria estar aqui, e que sou uma falha — a personificação da desgraça. Quando a ficha cai e recordo minha real natureza, uma dor excruciante toma conta do meu ser, fazendo-me sentir como se estivesse em uma tortura em Guantánamo.

Eu estou cansado. Exausto de todo esse ciclo de sofrimento, onde todas as alegrias não são mais do que pequenezas que não fazem a existência valer a pena.

Até quando?

sábado, 8 de abril de 2023

Ante Oblívio I



no vazio da existência,
eu encontrei minha morada,
sem esperança, sem sentido,
neste caminho sombrio em direção ao nada.

não enxergo beleza na vida,
apenas dor e sofrimento,
o mundo é um lugar absurdo ,
sem significado, sem propósito e sem valor. 

mais uma vez me afundo em desespero,
vendo apenas cenários sombrios como destino, 
não há luz no fim do túnel,
apenas uma profunda escuridão infindável.

até que um dia, finalmente,
o fim chega sem aviso,
eu encontrarei minha redenção,
em um ato trágico e preciso.

sem adeus, sufocado em lágrimas,
me despedirei do mundo, 
sem deixar vestígios ou memórias,
além da minha influência e toda sua desgraça.

e será que então assim, 
finalmente alcançarei a paz, 
em um mundo que sempre desejei, 
ou toda a dor terá sido em vão? 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Dissolução



quando os anseios se apagam e as esperanças morrem,
não existem mais objetivos a serem alcançados.
Por que não, então, buscar desafiar os demônios e as almas penadas que vivem dentro?
certo de falhar, entro no rio,
mesmo vendo as correntezas,
e sentindo toda a frieza de minha vida.

aceito dissolver tudo que me faz ser, 
aceito me dissolver,
não ser 

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