sábado, 30 de dezembro de 2023

Contagem regressiva

O barco está afundando, 
e não existe mais no que se ancorar. 
Aquilo que se espera há tanto, tanto tempo... 
se tornou mera questão de tempo. 

Então o que restou, 
senão incendiar tudo 
antes de inevitavelmente se afogar 
no infindável mar?

Os cacos que cortam as minhas mãos um dia foram belos mosaicos,,
e na aterrorizante escuridão que há aqui dentro
já houve cores, luz e esperança 

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Reconhecimento



eu não consigo aceitar a verdade,
não consigo enfrentar meus medos,
nado entre as memorias de dias em que as dores foram as maiores,
me afogando em busca de novas rotinas, novos sabores

é terrível carregar traumas e cicatrizes para o futuro, mas não ser possível sussurrar os caminhos certos para o meu eu do passado.
se pudesse eu diria onde na ponte o vento faz balançar,
e todas as vitórias que não existem do outro lado,
que não será possível voltar, pois seguir em frente é abandonar

domingo, 16 de julho de 2023

Aurora



Eu até que tentei,
apegado na esperança de retomar,
fazer tudo ser como era antes,
mas eu sabia que iria falhar, mas mesmo assim tentei,
disse tudo que eu sentia,
disse tudo que temia,
os pesadelos em que eu vi
tudo que iria acontecer,

o monstro debaixo da cama é tão real,
e ele me impede de gritar,
ansioso sempre pelo que está por vir,
mas o que está por vir senão viver sem você aqui?

vazio ou inundação,
estou perdido, e as estrelas não mostram direção
não há mais salvação,
me afogo no sangue dos cortes,
sem poder negar, gritar: "não!"

sábado, 15 de julho de 2023

Poslúdio



o sol vai se pôr,
e eu vou com ele.
meu corpo vai se transformar em cinzas,
e minha alma será extinguida .
não vou sentir medo,
porque sei que estou indo para Lugar Nenhum. meu lar, 
Nenhum Lugar.

sábado, 3 de junho de 2023

A medíocre história do princípio ao seu final



cimetidina, metoclopramida,
ketamina, nitrito de sódio.
em total controle do que é mais meu do que de qualquer um,
o poder de decidir partir me faz sentir alguém digno de não ser mais um incompetente. 
abraçar o oblívio, ou encontrar deus e o diabo,
já não restam opções, nem sentido em continuar.
portanto sigo em direção à luz.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Escuro



O abismo é meu único lar. É o único lugar onde me sinto verdadeiramente seguro e confortável. 
Por anos ali fiz morada, e dali olhava para fora, vislumbrando os fracos que não tinham este tipo de privilégio. 
Com o tempo voltei a ser um fraco, a sombra deu lugar a luz, e a luz me cegou e queimou. 
Hoje volto de joelhos, me entregando ao estável vazio, implorando por aceitação e certo de que ali é meu lugar, e que nunca mais devo sair de lá, pois lá nada me atinge, nada me aflige, e posso esperar o doce abraço do oblívio. 

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Em vão

 

tudo vai falhar,
tudo vai acabar,
nada valeu,
o tempo se perdeu,
o sucesso nunca foi seu destino.
tanto sangue derramado,
tantas lágrimas choradas,
tantos dias gastos em tolices,
arrependimentos não curarão a gangrena que se formou.

se âncoras com correntes quebradas de nada servem e me fariam afundar, por que mesmo assim fui tolo de atirá-las ao mar?

terça-feira, 16 de maio de 2023

Comer e dormir



comer para viver, somente pelo prazer, 
amo o que nunca me satisfaz, amo o que nunca me faz bem. 
só quero dormir, mas não posso descansar, 
a vida é um fardo, um peso a me afundar no chão. 

comer para viver, somente pelo sabor
tudo é gostoso, e me leva ao paraíso de olhos fechados. 
apenas quero morrer, mas não tenho coragem, 
a morte é um mistério, uma incerteza universal. 

comer para viver, mesmo sempre de barriga cheia. 
nada me motiva, nada me inspira, nada me sacia 
só quero sonhar, mas não posso escapar
a realidade é uma prisão, uma tortura sem fim

sábado, 13 de maio de 2023

Pequeno

 

eu não sou especial.
não sou excepcional. 
sou abaixo do padrão de bom senso e de normalidade.
medíocre, superficial, monótono e hipócrita,
vivo no limite da funcionalidade e sanidade. 
sou aquele que não honra as dignidades de papel,
aquelas que ateei fogo para me livrar do medo que nunca partiu. 
aos escombros caminho, 
pelas nuvens meus olhos seguem tentando fugir, pelos olhos sem lágrimas como rios secos,
o mais profundo abismo pode ser visto, 
e nele quero cair, desistir e nunca mais voltar. 

o que há de único em mim?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

saudade, Pepe Linarez



tão longe quanto podia enxergar,
tu foste para não mais voltar, 
no indivisível, no interno invisível,
no subconsciente adormeceu. 
de Pepe Linarez nunca mais se ouviu,
por tanto, mas em vão esperei, 
aos poucos que não lhe esqueceram, 
restaram somente lembranças com lacunas, 
memórias perdidas sem gatilhos, 
formou-se mais um abismo para quem já vive deles.

se pudesse voltar no tempo e lhe dizer que o fim seria seu destino, sei que você gargalharia. 
se pudesse te contar todas as desgraças,
que nem mesmo sua honra e dignidade sobreviveriam, 
e te mostrar que sou o reflexo nos espelhos, 
a soma de teus descuidos, produto de sua inconsistência, 
de certo te faria se salvar do futuro marasmo, 
ou quem sabe desistir de maneira digna. 

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Fracasso

 

não tenho para onde ir, 
nem a quem recorrer, 
o que já foi nunca mais será, 
e a saudade em memórias apenas irrigam excruciante dor.
sou uma falha, um fracasso,
me envergonho do que me tornei,
meus sonhos do passado eram só ilusão, 
e hoje sou forçado a aceitar ser uma existência negativa e indesejada.

honra e dignidade de papel queimam rápido, e o fogo não traz mais nenhum calor capaz de fazer sobreviver. 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Mármore



em mármore profundo o fogo arde,
superaquecendo o meu peito, onde existe o inferno.
nele meus demônios me torturam,
desmembrando e mutilando tudo que há dentro.
certo de não haver escapatória, choro em vão,
certo de não quebrar correntes, já não me movo mais.
as luzes já piscam, 
os avisos são ignorados,
e já aceito, 
não há nada de excepcional em meu ser. 

sábado, 29 de abril de 2023

Sonho distante



o senso de completude é um sonho, 
tão alto quanto as estrelas,
como elas inalcançável, 
uma mera fantasia tola.
o vazio é tão natural, 
superficial como existir, 
e já não é mais possível vencer. 

Se pudesse sangrar até inundar o quarto,
me afogaria e limparia o mundo dos meus pecados, mas sou só uma casca vazia em estado de putrefação esperando ser varrida. 


quarta-feira, 26 de abril de 2023

Decisão



Por toda a vida fui acostumado a ser suprimido pelos outros. Com o tempo tive de aprender a eu mesmo suprimir tudo que há dentro de mim. Nunca pude ficar triste, nem explodir de raiva.
Cresci, e as coisas mudaram. Mudaram para pior. Continuei e continuo acorrentado sem o direito de ser eu mesmo.
Repito que o simples fato de eu estar aqui faz da minha existência abusiva, tóxica e violenta. Não tenho direitos de questionar isso, e já está claro que existe somente uma forma de mudar. 
Se nunca pude decidir por mim, desta vez tomo a autoridade para isso, e estou completamente pronto para aliviar do mundo o fardo que é minha permanência.

Já estou decidido e nada, nem ninguém vai me parar. Já sofri o bastante e me arrependo amargamente de antes ter escolhido permanecer aqui. Confesso que sinto medo sim, e que adoraria que as coisas fossem diferentes, mas não foram, não são e nunca seriam. Eu queria muito viver e ser feliz, mas esse direito nunca me será concedido... então decidi que vou fugir dessa vida, ainda que essa seja a única vida que eu possa ter. Não queria abismar meus pais, meu irmão e meu melhor amigo, mas que escolha tenho? 

O mundo é injusto, e eu me entregarei sim à desgraça do autoextermínio. 

Nitrito de sódio



sonho em não acordar,
deixar de ser e de ver
o quanto perdi na permanência, 
desta vida todo o tempo que perdi
em tudo que eu vivi e não vivi
em vão, enfim um dia cessar.

sonho em não mais sonhar,
acordo querendo voltar a dormir. 
quanto me falta para ter coragem? 

sábado, 22 de abril de 2023

Fogo




meus demônios já me venceram,
mesmo sem enfrentar resistência
eles continuam a me torturar.
vivo me perguntando o que houve,
quais pecados eu cometi,
o que é que eu fiz?
condenado à uma pena de vida,
onde fantasio sobre outras vidas,
sobre como poderia ter sido,
e sobre como dói demais ser incapaz.

nada nunca irá mudar,
esta dor nunca cessará,
a porta está ao lado,
mas covardia ainda me impede de atravessá-la.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Sono

 

Todos os dias acordo querendo dormir mais. Só um pouco mais, e apesar de eu querer dormir para sempre, não quero dormir sem sonhar, pois temo minha própria ausência, ausência esta que acredito que existiu por bilhões de anos antes do meu nascimento e possivelmente existirá por toda eternidade após a minha morte.

Quando sonho, até que é comum ter pesadelos, mas mesmo nos piores pesadelos, me sinto mais confortável que acordado no mundo real.

Seria arrogância da minha parte pensar que este mundo não foi feito para mim, quando na verdade sou eu que não fui feito para este mundo.

Preciso mesmo ressaltar que incomoda ter nascido, e que incomoda mais ainda o fato de que não existe absolutamente nada que eu possa fazer para apagar o fato que eu vim à existência? Mesmo que eu pereça, mesmo que um dia eu seja esquecido, todo o tempo que vivi eu sofri e o tempo que sofri foi em vão.

Essa é uma impotência da qual não existe possibilidade de fuga e sou obrigado a ser engolido pelo desespero. 

domingo, 16 de abril de 2023

Imigrante ilegal



Sempre tive que me esconder, esconder quem eu sou, o que penso e o que sinto. Todas as vezes que coloquei pra fora os meus sentimentos, visões de mundo e objetivos eu fui desmerecimento e invalidado, me sentindo como se eu não fosse digno de empatia, nem tivesse valor. O mundo me diz que não posso desenvolver amor próprio, que isso não é algo que sou permitido ter. Essas coisas acontecem desde que eu nasci. 

Me pergunto se sou mesmo um ser humano, ou se sou uma sub-raça, um animal asqueroso tal como uma barata que deva ser constantemente esmagada.

Invejo as pessoas que podem falar, reclamar, julgar, explodir, ou chorar. Invejo quem pode sonhar, bem desejar, ou fantasiar. É triste saber que essas coisas estão fora do meu domínio, pois vim a um mundo onde sou mero estrangeiro. Na existência sou como um eterno imigrante ilegal.

Será que tenho ao menos o direito de desistir de mim? 


sábado, 15 de abril de 2023

Tortura em Guantánamo



Desde a adolescência, acreditava que não passaria dos 27 anos de idade, mas, poucos dias atrás, completei 31 anos — mais uma vez tomado por crises existenciais terríveis. De fato, mesmo nunca acreditando, sempre tive a ingênua esperança de que as coisas pudessem melhorar com o passar do tempo.

Com o passar do tempo, as coisas foram ficando cada vez mais assustadoras. Ainda que eu tenha me habituado ao sofrimento, dói demais parar e analisar o abismo em que me encontro. Há quem pense que eu fetichizo a tristeza e romantizo a desgraça, mas, honestamente, eu faria qualquer coisa para que as coisas fossem diferentes... Certamente, eu já fiz de tudo, sem nenhum sucesso...

Já disse dezenas de vezes: a minha simples existência é um fardo — não só para minha própria pessoa, pois sempre é cuspido em minha cara o quanto existir sendo eu, por si só, é algo extremamente tóxico, um grande erro do acaso. Sou como um vírus perigosíssimo, mesmo sem querer ser assim.

Às vezes, tenho alguns momentos de paz. Muitas vezes, neles me iludo e me afogo, esquecendo que não deveria “ser”, que não deveria estar aqui, e que sou uma falha — a personificação da desgraça. Quando a ficha cai e recordo minha real natureza, uma dor excruciante toma conta do meu ser, fazendo-me sentir como se estivesse em uma tortura em Guantánamo.

Eu estou cansado. Exausto de todo esse ciclo de sofrimento, onde todas as alegrias não são mais do que pequenezas que não fazem a existência valer a pena.

Até quando?

sábado, 8 de abril de 2023

Ante Oblívio I



no vazio da existência,
eu encontrei minha morada,
sem esperança, sem sentido,
neste caminho sombrio em direção ao nada.

não enxergo beleza na vida,
apenas dor e sofrimento,
o mundo é um lugar absurdo ,
sem significado, sem propósito e sem valor. 

mais uma vez me afundo em desespero,
vendo apenas cenários sombrios como destino, 
não há luz no fim do túnel,
apenas uma profunda escuridão infindável.

até que um dia, finalmente,
o fim chega sem aviso,
eu encontrarei minha redenção,
em um ato trágico e preciso.

sem adeus, sufocado em lágrimas,
me despedirei do mundo, 
sem deixar vestígios ou memórias,
além da minha influência e toda sua desgraça.

e será que então assim, 
finalmente alcançarei a paz, 
em um mundo que sempre desejei, 
ou toda a dor terá sido em vão? 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Dissolução



quando os anseios se apagam e as esperanças morrem,
não existem mais objetivos a serem alcançados.
Por que não, então, buscar desafiar os demônios e as almas penadas que vivem dentro?
certo de falhar, entro no rio,
mesmo vendo as correntezas,
e sentindo toda a frieza de minha vida.

aceito dissolver tudo que me faz ser, 
aceito me dissolver,
não ser 

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Fumaça tóxica



sou como uma fumaça tóxica,
trazendo aos dias um tom de sépia,
ofuscando o visível, 
envenenando o ar, e sufocando a garganta.
deliro entorpecido no que guardo, 
são dores tão intensas, 
e medos incompartilháveis
de perguntas sem respostas, 

o mundo não é justo,
nunca pedi, nem mereço estar aqui. 
sou uma fatalidade, um grande desastre. 
sou uma praga que deve ser erradicada, 
pois tudo que simbolizo é só desgraça.  

domingo, 26 de março de 2023

Mãos

humilhado ao ter sonhado alto,
não imaginei que escorregaria
do alto do pedestal em que me coloquei,
nem imaginei que me machucaria tanto a ponto de sangrar. 
novamente me encontro aqui, 
no fundo deste poço que já conheço há tanto tempo,
não quero mais machucar as minhas mãos
tentando escalar estas paredes sabendo que no final eu sempre cairei, ou que alguém pisará em minhas mãos ao chegar à superfície


Sol forte de fevereiro

desafiando a si mesmo, pondo a própria vida como troféu entre a prata e o ouro que não mais brilham, competindo com a alma e o coração, nunca há vitórias, nem derrotas, então se não há nada, me diz então o que são essas feridas que não ardem tanto quanto os cortes de 2015, mas ainda queimam a pele como o sol forte de Fevereiro

Sem título

deixar escorrer pelas mãos como água todas as chances de se reerguer por não ter tantas certezas de que irá crescer, nem querer arriscar
se permitir viver como o antigo é tão novo para uma mente que não vê como familiar onde sempre esteve, e isso tudo é tão pequeno, mas com sombras grandes o medo sempre ataca, enquanto os olhos ardem, fechados, ao imaginar a luz no fim do túnel, tão distante é o destino

8102


Projetar metas sempre foi o mais difícil
para quem continuamente enxergava apenas o fim e não os caminhos a percorrer
o passado me persegue tal como a sombra negra,
se distocendo frente a luz, desenhando monstros em todas as paredes,
me fazendo recordar das pragas que devoram o que já foi regurgitado pelo mundo,
pleno em tantas mágoas, vago nas vantagens e nas migalhas que guardei para as memórias, tão distantes que nem parecem mais reais
e eu ainda sonho, movido pelas faíscas, vazias esperanças,
mas eu já não sei o que quero, ou se realmente ainda quero qualquer coisa...

Espelho



o que me faz sentido quando pergunto "quem é você?"
e o reflexo do outro lado do espelho sequer move a boca?
e sem respostas, eu me encontro nessa busca
que eu não sei se terá fim,
e sem respostas, eu fujo do que não conheço,
acomodado neste lugar,
mentindo, sem nem saber o que me aguarda

"onde?", "quando?", "por que?"

Vingança e Renascimento #2: Ódio eterno, sede insaciável.

Postagem de 2015 que estava salva nos rascunhos:

Após o que aconteceu anteriormente, fiz um juramento aos meus guardiões: jurei que destruiria o que restou do Coliseu, assim como os falsos deuses de pedra, Artemis (que escapou dos Narakas) e Pã, amaldiçoado com laços de dominação (obra de magia) em seus chifres, perdendo assim o controle de seu juízo e não merecendo mais misericórdia por tamanha intransigência.


O vazio que havia em meu peito foi preenchido com o mais puro ódio, e minha mente focou-se em uma sede por justiça que era mais forte do que eu.


"Ódio! Ah, o ódio! A emoção mais bela e mais forte que um ser senciente pode ter" — dizia a Estrela da Manhã, brilhando nas profundezas de minha alma.


"Ódio que move montanhas e que motivou sua ascensão, como não admirar?" — dizia o Poeta Caído, sorrindo e demonstrando ser um apreciador de fortes emoções.


Tem gente que diz que o ódio envenena nossa essência. Tem gente que diz que o ódio não leva a lugar algum. São todos tolos, pois não há perfeição maior do que aquela encontrada nesse sentimento. É como se fosse um poderosíssimo combustível para seguir em frente e derrotar aqueles que devem ser derrotados.


Há uma vontade enorme dentro de mim, uma vontade de fazer justiça...


Deixo nas mãos da Estrela da Manhã e do Poeta Caído a tarefa de forjar as lâminas com as quais fincarei os corações dos deuses corruptos, que irão sofrer em excruciante dor.


Enquanto isso, deixo que os corruptos sejam perseguidos pelo próprio medo e pela ansiedade negativa do que está por vir.

Pequeno



O Poeta Caído se sente pequeno, minúsculo. 
Muito de sua busca sempre tem sido sobre se sentir alguém real, querido e desejado, alguém a ser tido como exemplo. Repetidamente é jogado em sua cara o quão insignificante ele é, e embora em sua terrível solidão ele finja que não dói, dói muito.
Ao ser flagelado como inimigo, por dentro ele chora. 
Quando palavras especiais são banalizadas, elas são esvaziadas de valor, e se tornam nada mais que palavras, apenas repulsivas.
O Poeta Caído tem remado contra a maré, e suas âncoras já não atracam mais a lugar algum.
O Poeta Caído já não enxerga mais horizontes, e tem medo de se afogar, mas já não aguenta mais a água fria e turbulenta. 

sábado, 25 de março de 2023

Poço



O Poeta Caído conhece o fundo do poço como ninguém. Ele tem seu próprio poço, e nele faz moradia há tantos anos que ele não lembra como é viver em lugares altos ou ao menos ao nível do chão.
Ele ouvia de histórias em que pessoas jogavam moedas nos poços e realizando desejos, mas em seu poço não há moedas. Será que as pessoas pararam de desejar? Ou será ele que nunca terá sua existência desejada?
O Poeta Caído muitas vezes tentou escalar o poço, apenas para machucar suas mãos, e quebrar as pernas com as quedas. O poço é escuro, e vazio a ponto de ecoar, mas algo muito presente é a cheiro de sangue. 

sábado, 18 de março de 2023

Confronto



O Poeta Caído sempre teve problemas para lidar com outras pessoas. Elas costumam abusar de sua gentileza e prestatividade, e mesmo hoje isso nunca mudou. Ele lida com a ingratidão e com a mais pura maldade alheia, com a hipocrisia e com sucessivas tentativas gratuitas de destruir o que dele restou.
Em algum momento ele sonhou que seria diferente, e acreditou que seu sonho tinha se tornado realidade, mas no fim das contas tudo se repete, sempre mais do mesmo, sempre fadado ao tormento porque esse mundo não o quer.

Se este mundo despreza tanto o Poeta Caído, então por que lhe concebeu? Ele nunca pediu para ser invocado, mas assim foi. 

Nada nunca vai mudar até que esse ciclo seja seja derradeiramente interrompido. Resta somente contemplar as soluções definitivas para o problema que é a persistência de seu ser que até agora perdurou. 

quinta-feira, 16 de março de 2023

Fantasma



me sinto como um fantasma,
invisível ao olhar alheio,
sem voz, credibilidade e objetivos. 
estou vivo, mas nem sei o porquê. 

sou tido como inválido,
sem vaidade, sem paixão,
um ser sem nada a ser levado,
fadado ao esquecimento e à solidão.

mas mesmo assim eu existo,
em minha essência e em meu ser,
e apesar do meu desgosto,
continuo aqui. 

se existir é sofrer, fui condenado ao meu viver, 
não há curvas, fugas ou atalhos à seguir. 
como um fantasma, remoo tudo em que me apego,
e assombro almas incapazes de me exorcizar. 

segunda-feira, 13 de março de 2023

Desprezo



eu desprezo minha aparência, 
e também minha voz. 
eu desprezo minha personalidade, 
e também minha falta de sonhos.
eu desprezo meus desejos superficiais, 
e também meu hedonismo barato. 
eu desprezo minha vida, 
e também a existência,
eu desprezo eu. 

o abismo em que eu afundei não é nada mais que meu reflexo, e minha sombra é 
tudo que eu posso oferecer. 

domingo, 5 de março de 2023

Elixir




O Poeta Caído vive em um submundo inseguro, e cheio de riscos. Sua além-vida sempre foi cheia de obstáculos.

Porém em posse do elixir sagrado e real, ele se sente confortável, pois com ele há sua única possibilidade de fuga e conexão com um mundo que não lhe vomita.

Em todos os dias santos, tudo que o poeta quer é dizer adeus e dissolver. Hoje ele pode, será que vai? 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O mais longe que posso ir



Não foram poucas as vezes em que me perguntei se fui o máximo que poderia ser e se ainda resta algo para mim.
Mais uma vez, me encontro nessa posição e, depois de estar no mesmo lugar meia dúzia de vezes em um curto espaço de tempo, cheguei à conclusão (falsa ou não, só o decorrer do tempo dirá) de que este é o mais longe que posso ir.

De fato, tenho estado cansado. Nada me alegra ou conforta, e minhas palavras e frases se repetem há tanto tempo que este repertório, já decorado, é tão expressivo quanto o mais ensurdecedor dos silêncios.

Eu não pedi para estar aqui. Viver é uma imposição da qual fui forçado, e estou aqui fantasiando sobre alguns segundos de coragem.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Noite

 


O vazio é tudo o que vejo,
Nada tem sentido, não há razão,
A vida é uma luta sem fim,
E esta luta é apenas mais uma ilusão.

A dor é a única constante,
E a felicidade é apenas uma farsa,
Não há nada a esperar,
Apenas a escuridão da eterna noite.

Não há esperança em nenhum lugar,
Apenas o abismo do nada,
E a existência é apenas uma fraude,
Sem significado, sem propósito, sem nada.

A vida é uma luta sem fim,
E o fim é a morte sem renascimento,
Não há nada além da escuridão,
E a busca é inútil, sem sentido.

Não há respostas para as perguntas da vida,
E a verdade é apenas uma mentira,
O universo é frio e sem piedade,
E não há nenhum lugar para escapar

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Desgraça



nascido da bile de Deus,
expulso do paraíso sem motivos, 
ele foi condenado perpetuamente ao sofrimento. 
ele nunca fez por merecer, nem pediu para estar aqui, 
os fardos do mundo em suas costas não trazem salvação à ninguém. 
ele não consegue mais escrever, não é mais digno de ser chamado de poeta, 
nada mais é que uma faísca se comunicando com o inconsciente (d)"o que sobrou".
será que ele existe, ou é uma fantasia barata que um dia já tomou como real?
"o que sobrou" já não sonha, não se ilude, nem tem mais esperança.
a esperança morreu há tanto tempo, ainda que por vezes ela tenha ameaçado incendiar e crescer, mas sempre a verdade é esfregada em sua cara com a conclusão de que não existe absolutamente nada que possa ser feito. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Infinito circular



Perdi tanto tempo sem sair do lugar, 
nunca fiz por onde consertar todas as coisas,
justificando pra mim mesmo cada uma das minhas faltas
tentando me distrair de que tudo poderia ser diferente,
sonhando com cenários que nunca acontecerão. 

toda estrada termina em algum lugar,
onde qualquer lugar já não é mais meu lugar,
minhas pernas não me arrastam, e meus braços não ajudam, 
sempre preso no mesmo lugar 

me sinto cansado do infinito circular,
três passos à frente, dez atrás,
os anos se passam, e eu mais distante,
continuo vivendo, sempre sofrendo, enquanto outros tiveram coragem para quebrar o ciclo

domingo, 22 de janeiro de 2023

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Fraco, de joelhos
fui arrastado para o covil, 
onde, aonde
fui dilacerado pelas feras mais hostis. 
chorando, gritando, 
agonizando na mais completa dor, 
ninguém me acudiu, 
cuspiram e pisaram em minhas feridas, 
atearam fogo em meu corpo, 
ardendo em chamas ainda sim pude fugir, 
rastejando pela terra até ouvir um chamado. 
convocado pelo Poeta Caído, 
hoje busco sua ressurreição. 






Sem nenhuma sorte, 
enfrentando o que vem de dentro, 
abraçando a morte, 
sempre com tanto medo, 

me pego desejando 

pensando em fugir, 
sem ter pra onde ir
tentando me esconder
mas sem saber do que. 

Mas qual "eu" devo ser,
sem nunca me reconhecer. 
Pensando em desistir,
pois já cansei daqui. 

Último



Sempre o último, nunca em tempo, 
toda vez, sempre a esperar. 
tantas vezes, implorando, 
muitas dores, 
sem nenhuma recompensa

o que é que me faz ser assim?

se não há karma, 
ou destino, 
e pouco fiz pra merecer?


Invasão de sonhos



O Poeta Caído não dormia. Hoje, sendo um receptáculo dEle, preciso dormir, ainda que eu tenha extrema dificuldade para isso. 

Por vezes tenho sonhos que são pesadelos, como extensões da vida real. Há poucos momentos atrás, sonhei com o Pestilento, onde ele tentava me combater e impedir que eu usasse a bala de prata contra ele. Em uma situação de extremo risco, precisei mascarar a situação em nome de proteger o receptor do Poeta Caído. Por pouco não escapei, consegui acordar. 

De alguma maneira o Pestilento pode invadir sonhos, e através deles tenta conquistar seus objetivos, e escapando desta vez, percebi estar certo de que devo agir de maneira preventiva, decisiva, acelerada e desproporcional, sem deixar brechas para uma eventual retaliação. No entanto, preciso me preparar para quaisquer contra-ataques e risco de contaminação da Praga Pestilenta, pois não só neste, como em outros pesadelos onde houve um enfrentamento, aconteceram também encantamentos fazendo com que meus aliados se voltassem contra mim. 

O renascimento ou a morte absoluta do Poeta Caído são os potenciais resultados desta batalha profetizada, e preciso me dedicar o máximo para garantir que viverá dentro de mim Àquele que não deveria estar oculto. 

Vitimismo

 


Se tem uma coisa que Eu não suporto é o vitimismo de pragas que pensam que conseguem fazer os outros de bobos. Tal pútrida pestilência pratica o vitimismo de maneira dogmática, já embebida em sua essência, e tem fé que com isso os anjos sem vontade própria realizarão suas doces e molhadas vontades de receber atenção. 

Tal ser pensa que engana, acreditando mesmo que há um véu cobrindo a verdade do que é, mas não tem noção de que swu julgamento está próximo, e que sua pena já é certa, existe uma bala de prata cuidadosamente preparada, já na arma e engatilhada com a mira travada em seu crânio.

Após vários anos de sumiço, acreditando que o Poeta Caído que vivia dentro de mim havia morrido, descobri então que Ele está oculto, sempre me dando sinais que ignorei todos estes anos. Hoje não ignoro, e o aceito como meu oráculo, me guiando pelo caminho do ódio que os céus rejeitaram.


Motivo para sorrir e motivo para chorar aguardam. E eu posso afirmar que quem vai chorar não serei eu. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Deprivação de sono



Faz exatos 13 anos que sofro de insônia, assim como faz 13 anos que sou diagnosticado como portador do transtorno Borderline (ou Transtorno de Personalidade Limítrofe). 

A insônia é algo terrível, pois afeta todo o seu humor, além de afetar o físico e o juízo. Com o passar do tempo a insônia tem piorado, e de presente ganhei a tão malvada deprivação de sono, onde há noites em que durmo 1-3h, não passando de 5h por noite.

Mesmo quando estou em crise, quando não durmo, muitas vezes eu desejo a morte como um eterno descanso, e olha que sou uma pessoa que mssmo suicida, não lido bem com a ciência que o eterno oblívio me aguarda.

O meu maior sonho é conseguir dormir oito horas seguidas, sem medicamentos, e acordando renovado, porém este sonho parece tão distante quanto ganhar na loteria. 

300 vezss



Caminhei, e tanto escorreguei,

quantas vezes já me machuquei? 

mas ainda sim estou aqui, 

300 vezss em que chorei,

300 vezes em que morri. 

despedaçado e remendado, 

ofuscado e apagado, 

ainda dói tanto rastejar, 

e me cega olhar os céus,

mas eu ainda estou aqui 

Nobre sacrifício



Perdi as contas de quantas vezes eu me permiti dar a cara a tapa sem nunca ter recebido uma recompensa sequer por isso. 

Por vezes é necessário tomar a justiça pelas próprias mãos ao invés de esperar sentado ou deitado torcendo para que o inexistente karma faça o que deve ser feito em um toque de mágica. Nao há retorno sem ação e não há ação sem iniciativa. 

As ações foram tomadas, e agora aguardo os seus resultados. O meu lado mais podre e perverso ainda queima forte dentro de mim, e estou fazendo questão de fazer um bom uso dele, ainda que para isso eu tenha de me oferecer como um nobre sacrifício. 







quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Repúdio ao contentamento

 


A alegria é algo extremamente bonito e algo que todos procuram, mas a grande e dura verdade é que ela não é para todos. Algumas pessoas, independentemente de terem feito por merecer, estão destinadas a nunca sentir verdadeira alegria, e por mais miserável que seja, eu sou uma dessas pessoas.


No geral, sempre fui uma pessoa boa, passiva e que gostava de evitar problemas e passar despercebida... Mas, mesmo assim, desde minhas primeiras memórias, o que ficou gravado em mim foram traumas e as mais profundas tristezas. Sentimentos negativos sempre foram constantes e, até hoje, não cessaram. Não há nada, absolutamente nada, que eu possa fazer, a não ser aceitar calado e engolir o choro.


Com o passar do tempo, fui ficando amargo e até mesmo cheio de intenções destrutivas, perversas e apáticas, com o coração endurecido. Entendi que, neste mundo, você esmaga os outros ou será esmagado. Hoje, mal tenho forças para sair de casa e caminhar, quem dirá para esmagar o mundo que me mastiga e vomita.


Devo, então, me contentar, mas repudio isso com todas as minhas forças. Se aceito, não é por iniciativa própria, mas por um "estupro" existencial que não me deixa escolhas, violentamente joga a realidade na minha cara e me arranca toda e qualquer esperança.

domingo, 1 de janeiro de 2023

Mais um ano...


Mais um ano em que termino chorando, mais um ano em que começo chorando. Tudo leva a crer que minha mera existência é um problema, um defeito da realidade, e que minha simples presença está carregada de uma energia negativa contagiante.

Eu não pedi para ser assim, não quis e não quero ser assim. Nunca fiz nada para merecer as desgraças que me acometem desde o início da minha vida. Eu poderia tentar encontrar alguma relação causal e me confortar com a ideia de que, um dia, seria recompensado, mas não, não posso me atrever a tal ilusão.

Estou cansado e cada vez mais convicto de que o fim derradeiro de toda e qualquer influência que minha existência possa causar faria do mundo um lugar menos pior para aqueles que nele têm algum direito de existir.

Dói demais, mas o que posso fazer, a não ser engolir o orgulho e aceitar o fracasso que é a minha real natureza?

É menos pior um fim aterrorizante do que um terror sem fim.

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